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  • Foto do escritorAlexandra Oliveira

Como adaptar para um calendário híbrido

Atualizado: 25 de jan. de 2021



Uma vez que os calendários antigos variavam de pólis para pólis, há a possibilidade de adaptarmos as datas dos festivais que celebraremos (https://www.helenos.com.br/sobre-os-hemisferios). Quando eu morava na linha do Equador, preferia seguir a linha mais tradicional, mas compreendia quem questionava especialmente os festivais agrícolas, pois os históricos e urbanos não havia necessidade de alteração. Agora que moro no sul do país, as perguntas sobre a alteração de hemisfério devido às estações têm se tornado mais frequentes, inclusive de helenos da Argentina.


Conversando com eles, mostrei os 6 (seis) temas básicos que identificamos nos festivais (https://www.helenos.com.br/festivais-antigos): de renovação do altar ou estátua, para honrar os mortos e suas deidades, de colheita para celebrar a fartura, de criatividade e habilidades artesanais, familiares, de purificação e renovação de si e da vida. Desses, apenas 2 (dois) grupos se alterariam por conta dos ciclos da natureza: o de colheita e o de renovação da vida.


No primeiro grupo, o principal festival seria o Pyanepsia. A colheita aqui, para quem não é fazendeiro(a) e seguia o calendário original, podia ser simbolizada pela entrada de dinheiro na sua conta ou por um bom negócio que foi fechado. Mas, alterando as datas, você pode celebrar a colheita mesmo, considerando a safra da sua cidade ou região. O Pyanepsia caía aproximadamente após um mês do início do outono no hemisfério norte, então ele poderia ser deslocado para o nosso outono do sul. Igualmente, o Proerosía (coisas antes do tempo de cultivo), que ocorre um dia antes da Pyanepsia, seria alterado também. Outro festival sazonal seria o Skira, celebrado na época do corte e debulhamento do grão. Uma vez que ele costuma cair no início do solstício, pode ser movido de junho para dezembro. O Maimakteria é celebrado no início do inverno, para que Zeus Maimaktes (o Tempestuoso) seja gentil com as pessoas, plantações e casas nessa estação. O Oskhophoria celebrava Apolo e Dioniso, sendo que Apolo é honrado no verão e Dionísio no inverno, assim poderíamos manter (por conta disso) ou alterar (por conta de ele ser celebrado no mesmo dia da Pyanepsia), mas como ele tem relação também com o Anthesteria ("Festival das Flores"), quando os primeiros botões de flor aparecem e as videiras se enchem de novo, esses festivais se complementam, pois a Oskhophoria celebra a vindima. Portanto, sugere-se alteração em ambos.


No segundo grupo, de purificação e renovação de si e da vida, estaria o festival da Thargelia. No calendário tradicional, costumamos celebrar o desapego das coisas que nos fazem mal (fisicamente, psicologicamente etc) e o acolhimento do que é novo e saudável. Podia ser um período de reeducação alimentar, terminando com um banquete saudável e gostoso. Podia também ser uma postura de evitar ofender as pessoas, parar com as indiretas, ser mais gentil. Esse movimento de renovação costuma ser feito na primavera ou nas vésperas de um novo ano, então se alteraria a data do festival, que no hemisfério sul cai no final do outono, para o final da primavera, próximo ao solstício do fim do ano.


Por que só esses festivais? Vamos ver os principais dos outros grupos: Os festivais da Panathenaia, Kallynteria e Plynteria eram para limpar o altar, consertar peças, fazer uma manutenção, que não necessariamente precisa ser em uma data relacionada às estações. Os festivais da Genesia e Diasia lembram os mortos, com ofertas e pedidos aos deuses (ou aspectos/epítetos de deuses) associados a eles, então não é algo sazonal, pois a todo momento há passagens e comunicações com o submundo. O festival da Khalkeia celebra as artes, inovações, trabalhos manuais e expressões criativas, também sempre presentes nas nossas vidas. O festival da Apatyria é para reunir a família e honrar os deuses da frátria, também independe de estações. A Arrephoria celebra a entrega do novo peplos a Atena, pode ser mantido para a lembrança do mito de Erictônio e das filhas de Kekrops.


O festival do Genesia/Genésios normalmente era no aniversário de falecimento da pessoa, então poderia-se mover essa data também, mas normalmente temos várias pessoas a homenagear, então ele pode se manter ou ser associado ao Diasia, que falaremos em seguida. Sabe-se que o Genesia costumava ser perto do outono porque era o fim das batalhas de verão, mas hoje travamos batalhas diferentes em todas as épocas, não haveria necessidade de alteração nesse sentido.


Já o caso do festival da Diasia, a Zeus Melikhios, esse poderia ser movido para o Dia de Finados. Inclusive, se considerarmos que o festival era celebrado na primavera, já que esse deus é responsável pela fertilidade do solo e normalmente mostrado com uma cornucópia, o dia 2 de novembro estaria coerente com essa estação. Outro festival a Zeus Melikhios é o Pompaia, após a semeadura de grãos, mas como o festival também afasta tempestades e inclui Hermes, ele fica um tanto flexível para se manter na data em que ocorre.


Alguns festivais, mesmo celebrados numa estação específica, não precisariam ser mudados, como o da Galaxia, que era na primavera, mas trata-se de um festival em honra a Reia com troca de mingau de cevada com leite e mel. O Delphínia (ou Iketiria) era realizado após o término do inverno, mas se relacionava a jornadas do mar, que hoje não espera uma época específica.


Os Mistérios de Eleusis são oriundos de um antigo festival da colheita dos cereais para a semeadura de outono. Mas o festival de Eleusis em si é iniciático e celebra todos os estágios de Deméter e Perséfone, e não apenas uma estação propriamente. A meu ver, pode ser mantido na data original, até porque se respeita a distância de datas entre os Mistérios Menores e os Mistérios Maiores.


Dessa forma, os festivais que sofreriam alteração de data seriam: Pyanépsia, Proerosía, Skíra, Maimakteria, Oskhophoria, Anthestéria e Thargélia (por conta das estações) e o Diasia (para o Dia de Finados, podendo também associar o Genesia aí).


Essa seria uma sugestão para quem se sente incomodado em celebrar as datas da Hélade vivendo na América do Sul. Mas, como explicamos, os calendários se relacionam às pólis, portanto, pode-se manter as celebrações atenienses na sua forma original e seguir o calendário helênico tradicional sem problemas. Como celebro sozinha, prefiro me manter em consonância com os helenos do mundo todo, mas entendo caso um grupo deseje se reunir para celebrar algo sazonal em sua região (lembrando-se de não aglomerar em época de pandemia).


O calendário tradicional de 2021 já está disponível no site (https://www.helenos.com.br/calendario) para quem quiser fazer seus cálculos para essas adaptações.



(imagem de freepik.com)

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