Práticas | Helenos
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Ortopraxia

Etimologicamente e historicamente, sempre houve uma distinção entre DOGMA (δόγμα) e DOXA (δόξα). Um dogma é uma doutrina baseada numa dada autoridade e de forma autoritária para um grupo específico numa área específica. Já doxa é uma opinião ou crença popular ou privada, mesmo que de alguém renomado. Já ORTHOS (όρθος) significa reto, correto. Daí, ORTODOXIA é uma expressão usada para fazer referência a algo rígido, tradicional, que não evolui, que é conservador, que não se adapta nem admite novos princípios ou novas ideias. É uma simples opinião tomada como correta, o que acaba sendo tão autoritário quanto o DOGMA, mesmo que a palavra use o 'doxa' em sua constituição.

 

Na ORTOPRAXIA (ὀρθοπραξία), o foco é na PRÁXIS, na prática, é a ênfase na conduta, na ética, em oposição à "fé certa" da ortodoxia. Segundo a Wikipédia, "Ortopraxia deve ser entendida como esse conjunto de técnicas e credos que faz parte de uma determinada tradição, que são passados para seus estudantes e mantidos sem alterações. Apesar de algumas diferenças entre as tradições, há alguns princípios em comum, para que ainda sejam consideradas. Isto então significa que não se pode fazer o que bem se quiser, praticar diversas técnicas indiscriminadamente, misturar panteões ou mitos conflitantes, ou perceber as divindades majoritárias da mesma forma que é encarada a divindade majoritária nos credos monoteístas." Assim, quando alguém fala em "dogma ortoprático", isso não faz sentido algum, já que o dogma é uma doutrina autoritária e a ortopraxia tem a ver com a prática, a conduta,o comportamento, a técnica, os princípios comuns ou privados. Também não faz sentido falarem em "crendices" no helenismo. 

 

O helenismo busca a ortopraxia, no sentido de buscar condutas éticas, de evitar a mistura de panteões e técnicas conflitantes, de preservar os princípios das diversas práticas antigas. Ele não é autoritário, dogmático, e muito menos é conservador, rígido, que não evolui (como são os ortodoxos). Portanto, pensem bem antes de entender o reconstrucionismo como algo engessado ou fechado. E, principalmente, procurem se esclarecer melhor antes de tomar os helenos como pessoas intransigentes. O respeito é um dos nossos princípios, a hospitalidade faz parte da nossa ética, e o conhecimento (a começar pelo "conhece-te a ti mesmo") é nosso principal guia.

 

Ésto (assim seja)!

Prática Correta

Antes de dormir e ao acordar

Preces matinais ou noturnas podem ser tão simples como "Kalimera/Bom dia (o nome da deidade)" ou "Kalinixta/Boa noite". Faça uma prece a Hermes e a Hypnos quando for dormir, pedindo por um descanso reparador e bons sonhos, já que Hermes é o "Psychopompos" (condutor de almas) e Hypnos rege o sono. Ou peça por Morfeu (dos sonhos), Mnemosine (da memória) e Lethe (do esquecimento).

Antes de fazer exercícios físicos

Seja antes de ir à academia ou no começo de um treino de lutas, ou no início de uma caminhada, ou no ensaio de uma dança, você pode recorrer aos heróis. Se você mora numa cidade, aproveite para agir como antigamente e faça uma libação no altar do herói (no ginásio) antes de começar seus exercícios. Um exemplo de prece (elaborado pela Alexandra): “Eu canto aos heróis, semideuses de nobre afazer, / Que vagavam pelo mundo sem esmorecer, / Realizando suas façanhas de forma exemplar: / Dêem-me força e virtude para continuar.”

 

Antes de viajar

Para quem for viajar pela estrada, deixe uma oferenda em uma ‘herme’ (pilha de pedras dedicada a Hermes), pedindo por uma boa viagem. Exemplo de prece (elaborado pela Alexandra): “Hermes, protetor dos viajantes, / Guarde-nos na nossa jornada; / Leve-nos agora em segurança, / Com seus pés alados pela estrada. / És Enodios e és Eriounios, / A ti eu canto e a ti eu honro.”

 

Antes e depois das refeições

Nas devoções que você faz dentro de casa, costuma-se oferecer a Héstia o primeiro e o último de tudo. Isso vale para refeições que você cozinha também. As refeições eram sagradas na antiga prática helênica. Uma forma de honrar os deuses é sacrificando uma porção de sua refeição ou bebida a cada vez que comer - talvez uma pequena porção no começo e no final para Héstia, já que as primeiras e últimas ofertas sempre eram para ela. Você pode atirar comida ao fogo ou colocá-la num pires, pode verter um pouco de sua bebida no chão, no pires, na pia, ou - se estiver em um restaurante - passar algumas gotas da bebida no seu guardanapo. Sócrates sempre fez libações de suas bebidas. Ao fazer sua oferta, diga: "Hestiê, SOU AEI TO proTON KE TO pumaTON!" (Héstia, para Ti sempre o primeiro e o último!) Você também pode verter um pouco de vinho doce púrpuro em um pratinho ou pires para o seu Agathos Daimon ao final da refeição. O Agathos Daimon é como Zeus Ktesios (Zeus da casa). Além de proteger seu lar, o Zeus Ktesios traz pra você plenitude, abundância, fertilidade e felicidade. O Agathos Daimon ou "O Bom Espírito" é como o seu seu guardião. Você o honra depois de cada refeição, e no segundo dia de cada mês lunar helênico. Antes de verter o vinho, diga uma prece.

 

Ao nascer do sol e chegada da lua

Erga sua mão aos lábios e sopre um beijo a primeira vez que você vê a lua a cada noite, e a cada vez que você vê o sol ao alvorecer. Isso se faz assim: estique o braço e a mão direitos à sua frente, então imediatamente traga a mão de volta para beijar as pontas dos dedos da mão direita, e então lance a mão e o braço de volta na direção do sol ou lua (como mandando um beijo). Enquanto faz isso, você está movendo o braço e mão de dentro para fora (da esquerda pra direita), virando seu corpo também da esquerda para a direita em união com o braço. Você pode acompanhar o gesto com um "Xairete Theoi" (Olá Deuses) e um "Kali Mêra" (Bom dia), "Kalo Meziméri" (Bom meio-dia), "Kali Spêra" (Bom início de noite) ou "Kali Níxta" (Boa noite, em despedida). Leia mais sobre o proskynesis (enviar um beijo soprado) abaixo, na parte de “passando por um altar ou estátua”.

 

Cerimônia Menor de Consagração de Ferramenta (Η Ελασσον Εργαλείο Τελετε)

Este é um ritual simples de consagração, apenas para purificar o objeto e oferecê-lo em serviço devocional. Se você vai usar algo em festivais e ritos, realize esta pequena cerimônia. Ela pode ser feita desde assim que o objeto for adquirido até imediatamente antes da ocasião em que será utilizado. Trata-se de uma simplificação da Cerimônia Maior de Consagração de Ferramenta (Η Μείζων Εργαλείο Τελετε), que foi baseada em textos extraídos do livro Ta Hiera, da Biblioteca Arcana e dos Papiros Mágicos Gregos (PGM). ₪ Material necessário: Sal (de preferência do mar), água, incenso, vela ou outro fogo de altar, raminho ou algo semelhante (para tornar a água lustral e para aspersão) e objetos cerimoniais a serem consagrados. ₪ Procedimentos: 1. Prepare o altar com o material necessário e as imagens/símbolos das deidades. (Os deuses das ferramentas são Atena e Hefesto, mas você pode incluir os deuses referentes a cada objeto, como Apolo para um instrumento musical, Ares para uma arma branca, Hera para uma aliança de compromisso etc.); 2. Tenha as ferramentas a serem consagradas em cima ou perto do altar; 3. Acenda e consagre a vela a Héstia. (Isto se faz recitando um hino a Héstia com a mão sobre a chama, de preferência um hino homérico, e melhor ainda se for em grego.); 4. Transforme a água em água lustral (khernips). (Isto se faz com um ramo aceso na chama da vela consagrada, que é encostado na água ao se dizer ‘Kherniptomai – que esta água seja purificada pelo fogo sagrado’.); 5. Para cada ferramenta a ser consagrada, faça o seguinte: a) Erga a ferramenta, saúda cada deidade do altar (Khaire Atena! Khaire Hefesto!) e diga a prece: “Convido a Vós e a todos os deuses das artes e ofícios! Dedico e consagro este -[anel]- (adaga, amuleto etc) a Vós. Se alguma vez cumpri meus votos e agradei Vossos corações, limpai agora est-[e anel]- de toda a mancha e toda a corrupção. Purifique-o para meu uso e Vosso serviço.” b) Medite na ferramenta, sua história, construção, propósito, como chegou às suas mãos, sua pretensão para ela; concentre-se no processo do que está sendo purificado neste ritual. c) Salpique-a com sal (representando a Terra). d) Borrife-lhe água lustral (representando a Água). e) Passe-a pela fumaça do incenso (representando o Ar). f) Passe-a pela chama da vela, ou pelo calor acima da chama (representando o Fogo). g) Segure a ferramenta no alto, aponte para ela com o polegar e indicador unidos e diga: “Eu te encarrego pelos poderes das deusas e deuses, pelo sol, lua e estrelas, pelo fogo, água, terra e ar, para servir as deusas e deuses através de mim. Eu te consagro pelos nomes de Atena, de Hefesto [e de...]. Ésto! (Assim seja!)” 6. Após consagrar todos os objetos, agradeça aos deuses e encerre o ritual como de costume.

 

Consagração de um novo altar

Um espaço sagrado pode ter vários nomes. Antigamente, o "templo" era a casa da imagem de culto da deidade e o "temenos" era o lugar de adoração. No centro dele, ficava o "bomos" (altar), onde era realizado o sacrifício. Hoje, que não temos templos, temos os locais sagrados onde os ícones da deidade ficam (temenos) e que podem servir também como um altar (bomos). O mais comum é vermos um altar principal cercado de vários "temenos", sendo que os dos deuses patronos são os mais importantes. Há normalmente um temenos também para os ancestrais e os mortos, e outro para observação dos festivais do calendário. As pessoas que cuidam do local sagrado (mantendo-o e limpando-o) atualmente costumam acumular outras funções, que incluem trabalho oracular, aconselhamento e orientação espiritual. A cerimônia em que essa pessoa aceita a responsabilidade de cuidar de um "templo" (ou espaço sagrado) é chamada de instalação ou consagração. Para isso, ela precisa preparar o espaço ritual, usar uma roupa limpa, trazer um presente para cada um dos patronos, uma oferta de sacrifício e os implementos usuais. Na noite anterior ao ritual, é bom que haja um banho de purificação com ervas do tipo sálvia, alecrim, lavanda e louro, pedindo a Apolo e Zeus que a pessoa consiga se manter pura. Se possível, use água de uma fonte, como faziam os antigos. No dia seguinte, pela manhã ou tarde, faz-se o ritual de purificação tradicional, banindo o mal e o profano, e então faz-se uma prece como esta: “Este espaço sagrado foi criado para o culto aos nossos deuses. Que eu possa cuidá-lo, defendê-lo, protegê-lo, e esteja preparado/a para mantê-lo puro e sacro pelo tempo que os Destinos permitirem. Sob os olhos de Hélio, trago estes presentes aos patronos deste tememos. Que Eles me possam ser favoráveis enquanto eu manter este espaço a Eles dedicado, e que possam me guiar pela prática correta que realizarei nele. Em troca, procurarei sempre fazer-lhes ofertas, sejam elas simples como um beijo ou grandiosas como uma estátua.” Em seguida, os presentes aos patronos são entregues, há ofertas de cevada, preces, libações, e pode-se consultar um oráculo pedindo aos deuses que lhe dêem algum conselho sobre o que será feito nesse novo espaço de culto. Os ancestrais também podem receber ofertas e serem igualmente consultados. Ao final de tudo, pode-se realizar um banquete, ou concluir o seu ritual como de costume.

                                                   

Cores da diadema

A diadema é símbolo de santidade desde os tempos minóicos, depois usado por sacerdotes e sacerdotisas gregos. Adoradores comuns dos Deuses também podem usar. A diadema é usada em torno da cabeça e amarrada atrás. Como se fosse uma tiara ou uma coroa de folhas/flores. Eis as cores para cada deidade:

  • vermelho escuro ou púrpura para Zeus,

  • azul para Poseidon,

  • verde para Ártemis,

  • amarelo para Deméter,

  • dourado para Apolo,

  • vermelho para Ares,

  • marrom para Hefesto,

  • verde/vermelho escuro ou púrpura para Dionísio,

  • vermelholaranja ou amarelo para Éris,

  • azul claro para Atena,

  • azul turquesa para Afrodite,

  • preto vermelho para Hécate,

  • branco para Héstia,

  • preto para Hades,

  • dourado/prateado/branco para Hera.

 

Destino das ofertas

Tudo o que é ligado aos deuses é sagrado. E o que é sagrado é separado daquilo que não é. Ter contato com coisas comuns, principalmente as causadoras de miasma, é uma forma de poluição. Para evitar isso, nos purificamos antes de iniciar um ritual, mesmo que seja apenas com o lavar as mãos na água lustral. Seguindo o mesmo princípio, jogar as ofertas direto no lixo também seria misturar o sagrado com o impuro. Então o que fazer? O ideal é manter a oferta pela noite e só desfazer-se dela no dia seguinte, jogando as libações no chão e queimando as ofertas sólidas no fogo, ou mandando-as pela água corrente. Só que a maioria de nós mora em apartamento ou em uma casa sem esses recursos. Considerando esse fato, os helenos modernos têm várias soluções alternativas para isso: Usar as ofertas como composto orgânico para as plantas da casa/apartamento (muitos helenos contam como as plantas sagradas aos deuses crescem melhor assim, como a vinha de Dionísio, os jacintos de Apolo etc); Ter um recipiente com areia ou argila ou terra no altar para absorver as libações (depois, a cada mês, você limpa a areia sacudindo-a em um saco com água e sabão e a reutiliza no recipiente); Deixar os restos de ofertas debaixo de uma árvore (mesmo nas grandes cidades existem árvores); Pegar as comidas ofertadas e colocar num saco de lanches e deixá-lo em uma encruzilhada (para Hécate, Hermes ou Quem-vier) ou dá-lo a um sem-teto (praticando um pouco do princípio sagrado da 'xenia'/hospitalidade); Se não tiver outro jeito, verter as ofertas líquidas na pia sim, mas com respeito (e não como quem joga o resto da água fora no meio da pressa de sair pra trabalhar), e, no caso das ofertas sólidas, colocá-las em um saquinho fechado (como os de fechamento a vácuo) antes de jogá-lo no saco de lixo comum. Quanto aos animais, por um lado eu concordo que não se deva DAR as ofertas para eles comerem, mas por outro eu acredito que - se você coloca a oferta debaixo de uma árvore e um cão de rua vai comer - aquilo seria um enviado de Hécate demonstrando a aceitação dela. No mais, siga seu coração. Se você fez tudo o que estava ao seu alcance e não obteve solução, o mais importante será a intenção do seu ato e a disposição em fazer isso direito. O que não pode é desleixar da separação dos hiera/sacra por pura preguiça.

 

Deuses do Lar

Os deuses caseiros/domésticos (Theoi Ktesioi) são Zeus, Héstia, Apolo, Héracles, Hécate, Hermes e os Dioskouroi (Cástor e Polydeuces). Cada um tem seu espaço em lugares específicos de nossas casas. Zeus e Héstia são os principais. O altar a ele fica no quintal dos fundos, enquanto o espaço sagrado de Héstia é na lareira ou na cozinha. Apolo e Héracles nos vãos das portas principais, Hécate e Hermes no jardim da frente. Os Dioskouroi ficam no cômodo onde se recebem as visitas ou no quarto de hóspedes. Os deuses de casa protegem e concedem favores ao lar e à família. Cabe a nós reconhecê-los e nutrir um relacionamento com eles, pois são parte de nossa vida diária e não algo separado do mundo. Afinal, "Se você não consegue ver Deus em uma flor, nunca o encontrará em um livro." Claro que você pode e deve ter altares a outras deidades em sua casa, as que citei são apenas as 'oficiais' da vida no lar, assim como há os deuses da vida no campo (Theoi Nomioi), os deuses do casamento (Theoi Gamelioi), entre outros.

 

Fazendo água lustral

Primeiro ore sobre o fogo da vela, pedindo a Héstia para abençoá-la, de preferência usando um Hino Homérico a Héstia. Depois pegue um feixe de sálvia ou palito de incenso*, acenda-o com a vela já abençoada e coloque-o na água**, dizendo: "Kherniptomai! Seja esta água purificada pelo fogo sagrado!" (Pronúncia: khêr-NIP-tô-mai.) A palavra "khernips" significa "água lustral", então 'kherniptomai' é o ato de torná-la lustral.

*O feixe de sálvia ou palito de incenso era o que antigamente seria um pedaço de madeira que esteve em contato com a água, tornando a água sagrada. Também já ouvi falar de madeira de cortiça, mas a sálvia é boa por podermos tanto usá-la para tocar a água com seu fogo quanto para aspergir. Se quiser ser bem tradicional, use um galho com folhas de uma árvore - de tamanho razoável, não maior do que sua mão agüenta. **Ao pegar o fogo da vela que foi abençoada por Héstia, você está purificando a água com o fogo que foi consagrado.

 

Honrando os deuses

Os deuses apreciam as pequenas coisas. Não precisa ser grande, elaborado ou caro. Meditação não tem que ser algo em posição de lótus e cantando mantras. Só precisa ser uma reflexão silenciosa em qualquer lugar entre um e trinta minutos - mais ou menos - em qualquer assunto. Além disso, não é só uma questão de pedir ajuda aos deuses. Você pode melhorar sua vida de forma a agradá-los. Sugestões: Se você está honrando Ártemis na sua prática diária - seja como devoto ou em um festival - então você deveria reciclar seu lixo e também não jogá-lo no chão. Ártemis ama a natureza. Cuide do meio-ambiente, mesmo das maneiras menores e simples. Doe algo para um abrigo de animais. Coloque um alimentador de pássaros no seu quintal. Se você está honrando Apolo, aprenda primeiros-socorros, toque um instrumento musical, faça artes plásticas ou artesanato. Tecer, porém, se trata de Atena (a ela também o bordado, a filosofia, sabedoria, estudo, reflexão, estratégia, atos corretos). Teatro, de Dioniso. Para Ares, aprenda artes marciais. Se precisa encontrar sua alma-gêmea, faça uma prece a Hera pedindo um par tão apaixonado e devotado quanto ela é para seu marido Zeus; a paixão do leito nupcial está toda nas mãos de Hera. Já Afrodite é uma deusa de amor e paixão, mas não necessariamente de relacionamentos duradouros ou de um relacionamento com potencial para o casamento - quando em dúvida, peça a ambas e deixe que te conduzem ao que for melhor para o teu momento. E assim com os demais deuses.

 

No trânsito

Preso no trânsito? Medite sobre Hermes (Deus dos caminhos) e, quem sabe, peça ao Deus veloz para mover o tráfico mais rápido. Eis um exemplo de prece, feito pela Alexandra: “Hermes Enodios e Eriounios, deus das estradas e encruzilhadas e que traz a sorte, abre meus caminhos para que eu possa chegar com rapidez e segurança ao meu destino [ou ao meu trabalho/casa]. Eufxaristô (Obrigado/a)!” Fale também "por favor", que em grego é "parakalô". Se você quiser enfatizar, diga "para polí" depois do "eufxaristô" para que fique um "muito obrigado/a". Os Deuses gostam de educação e gentilezas tanto quanto nós, ou até mais.

 

Partes de uma prece

Qualquer mal, erro, grosseria, ou palavra de reclamação seria injúria (blasphemia) e o bom discurso (euphemia) dos participantes consiste primeiro no silêncio sagrado. Fora do silêncio, dirige-se a palavra ao Outro em uma invocação ou súplica: a prece. As preces do mundo helênico são muito estruturadas e com a mesma estrutura das maldições. Elas consistem de três partes: primeiro dar atenção à deidade convidando-a para o ritual, listando seus muitos nomes (normalmente concluindo com "e quaisquer nomes com os quais desejas ser chamada/o") e que ações eles fizeram no passado. A segunda parte envolve identificar a pessoa que faz a prece com seus ancestrais, que sacrifício eles fizeram no passado (incluindo este), e o que a deidade fez para eles no passado. Finalmente, a última parte consiste em dizer os desejos e dizer os votos que são feitos em retribuição pela concessão desses desejos. Isso é mais poderoso se o fizermos em métrica e rima, se convidarmos mais deidades e se dermos uma lista mais longa de realizações feitas pelas deidades. As imprecações têm a mesma estrutura, mas as deidades chamadas são os deuses ctônicos ou os heróis ancestrais. As imprecações eram usadas para acertar coisas erradas e trazer a justiça de volta ao equilíbrio. Mas os deuses ctônicos punem aqueles que fazem imprecações por maldade ou por razões baixas e aqueles que amaldiçoam os outros pelas coisas das quais eles também são culpados. Raramente existem rituais sem preces e raramente existem preces sem sacrifício/oferta. As preces costumam pedir que os deuses nos concedam proteção, sucesso, amor, abundância, saúde e filhos. Nunca fazemos preces para sermos salvos após a morte, uma vez que os helênicos não acreditavam em punição eterna.

 

Passando por altar ou estátua

Se você passa por um altar a um deus ou por uma estátua de um deus, você pode saudá-lo com um "Xaire" ('olá/salve' em grego, pronuncia-se Khaire), também chamado de "Latreia" (serviço aos deuses). Trata-se mais ou menos de soprar um beijo para o altar/estátua. Os romanos chamam isso de "Adoratio", e se faz da seguinte forma: estique o braço e a mão direitos à sua frente com a palma para baixo na direção da estátua ou figura da deidade, então imediatamente traga a mão de volta para beijar as pontas dos dedos da mão direita, e então lance a mão e o braço de volta na direção da deidade (como mandando um beijo). Enquanto faz isso, você está movendo o braço e mão de dentro para fora (da esquerda pra direita), virando seu corpo também da esquerda para a direita em união com o braço. Se você estiver fazendo a prece em um altar ou lareira, segure o altar com a mão esquerda e faça a adoração com seu braço e mão direitos. O Proskynesis  (προσκύνησις = enviar um beijo) era feito trazendo-se a mão até a boca e soprando um beijo na direção da imagem de um deus. Esse ato está representado em várias pinturas de vaso áticos. Os antigos gregos o executavam ao passar na frente de imagens de culto ou santuários aos deuses que ficavam ao longo das ruas. Curiosidade: Segundo Luciano (escritor antigo), foi com esse ato que Demóstenes enganou os emissários de Antipater e levou veneno aos lábios. De acordo com o livro "Histórias" de Heródoto, uma pessoa de mesmo nível recebia um beijo nos lábios; alguém de um nível um pouco inferior recebia um beijo na bochecha; e alguém de um nível social muito inferior tinha que enviar um beijo, se curvando a quem estivesse à sua frente. Para os gregos, oferecer proskynesis a um mortal parecia ser uma prática bárbara e ridícula. Eles reservavam tal submissão apenas aos deuses. Dizem que outra forma de saudação era o Prospíptein (prostar-se ao chão). Provavelmente essa era feita mais aos deuses ctônicos.

 

Postura ao fazer uma prece

As preces são realizadas com os braços erguidos para o céu, nunca ajoelhado ou em uma posição de quem está implorando alguma coisa. Se você puder ver um filme com a Isabella Roselini chamado Odisséia (Odyssey, 1997), onde ela representa Atena, vai ver como uma serva de Penélope faz uma prece na frente do altar de Atena com os braços erguidos, pedindo a ajuda da Deusa. O tratamento que esse filme deu ao Helenismo é bonito e sincero. As preces são tipicamente feitas com os braços erguidos e as palmas viradas para o altar ou imagem de culto, para o céu se forem os Olimpianos, ou para o chão se for uma deidade ctônica a quem se dirige. Esquematizando: ₪ Para orar para deuses celestes, palmas da mão para cima, pro céu. ₪ Para orar para deuses marinhos, braços na direção do mar. ₪ Para orar para uma imagem de culto, braços na direção da imagem. ₪ Chamando deuses do submundo ou os mortos envolve práticas mais extremas, tais como se jogar pra baixo e bater com os punhos no chão.

 

Prece a um enfermo

Se você ou alguém que conheça está doente, peça a Apollo ou a seu filho Asclépio pela cura. Exemplo de prece feito pela Alexandra: “Canto a Asclépio, filho de Apolo, / Estudante de Quíron, hábil centauro, / O grande médico e curador ferido / Que pelos sonhos trazia o alívio. / Em Teus templos fazias curas, / Os doentes a Ti pediam ajuda, / Tua sabedoria no sofrimento / Rendia ofertas de agradecimento. / Nenhuma doença te escapava, / Habilidoso, sempre curavas, / A Teu toque, ossos se uniam, / Febres baixavam, dores sumiam. / Gentil Asclépio, peço-te a cura, / Venha nos dar saúde em fartura, / Leva a doença pra longe daqui, / Asclépio, Efxaristô para polí!”

 

Prece Órfica (bênção)

“Que Zeus inefável e Dionísio três vezes revelador sejam propícios à tua mocidade e que vertam no teu coração a ciência dos deuses.”

 

Purificação

Antes de fazer uma prece, oferecer um sacrifício e fazer um ritual helênico de qualquer tipo, sempre lave sua mão primeiro. Isso é tradicional e tem a ver com padrões de purificação a fim de evitar qualquer tipo de miasma (poluição). Para rituais ou festivais, é bom tomar um banho antes, e colocar roupas limpas. Isso também faz parte da tradição. Pelo mesmo motivo, mantenha a área onde você faz suas adorações limpa. "Nunca verta uma libação do cintilante vinho a Zeus depois da aurora com mãos não-lavadas, nem a outros dos deuses imortais; senão eles não só não ouvirão suas preces como também as cuspirão de volta." (Hesíodo, 'Os Trabalhos e os Dias', verso 724ss) “...além disso, eu tenho pavor de com mãos não-lavadas verter libação do ardente vinho a Zeus; nem deve um homem sábio fazer preces ao filho de Cronos, senhor das nuvens escuras, todo sujo/coberto de sangue e imundície." (Homero, 'Ilíada', VI, 265ss) "Ela então se banhou, e colocou vestes limpas no corpo, e subiu para a câmara superior com suas criadas, e - colocando grãos de cevada em um cesto - fez preces a Atena." (Homero, 'Odisseia', IV, 749ss)

 

Ritual de Purificação

Você pode (e deve) usar isto como purificação para abrir um festival, para consagrar um espaço, para "banir" coisas ruins quando você se mudar para uma casa nova, ou qualquer coisa assim. É um ritual básico e um dos primeiros a ser aprendido. 1. Primeiro ora-se sobre o aparador de vela (com a vela) e o incensário, pedindo a Héstia para abençoar a ambos, de preferência usando um Hino Homérico a Héstia. 2. Depois vem a purificação: "Hekas, hekas, este bebeloi! Que os profanos vão embora!" (Pronúncia: heKÁS, heKÁS, eSTÊ beBÊloi.) 3. Então pegue um feixe de sálvia ou palito de incenso, acenda-o com a vela já abençoada e coloque-o na água, dizendo: "Kherniptomai! Seja esta água purificada pelo fogo sagrado!" (Pronúncia: khêr-NIP-tô-mai.) A palavra "khernips" significa "água lustral". 4. Circumambule em torno do altar, parando na frente do altar. Então borrife o altar, as ofertas e as pessoas com a khernips. Enquanto asperge a água, diga: "O theoi genoisthe apotropoi kakon! Ó deuses, mandem embora o mal!" (Pronúncia: Ó the-ÓI, gue-nois-THÊ a-pos-tro-POI ka-KON.) 5. A tigela é retirada do altar para fora do quarto, estando agora impura. A água usada deve ser vertida diretamente na terra do lado de fora do temenos depois do ritual. ₪ Explicações: O feixe de sálvia ou palito de incenso era o que antigamente seria um pedaço de madeira que esteve em contato com a água, tornando a água sagrada. Também já ouvi falar de madeira de cortiça, mas a sálvia é boa por podermos tanto usá-la para tocar a água com seu fogo quanto para aspergir. Se quiser ser bem tradicional, use um galho com folhas de uma árvore - de tamanho razoável, não maior do que sua mão agüenta. / Ao pegar o fogo da vela que foi abençoada por Héstia, você está purificando a água com o fogo que foi consagrado. / Circumambulação = circular o altar, com a água e o cesto de cevada. / Talvez seja até melhor você aspergir o altar ANTES de circumambular, já que a após a circumambulação a água estaria "suja" ao ter recolhido as impurezas do aposento. / Algumas pessoas dizem algo durante a circumambulação, outras preferem o silêncio. Se for falar, você pode fazer uma prece para Apolo, deus da purificação. / Outro método de purificação sem o fogo (especialmente se você mora num lugar onde não pode fazer essas coisas), é obter água de um córrego, lago, lagoa, riacho - qualquer corpo natural de água - ou mesmo coletar água da chuva para usar durante o ritual. Você pode fazer o mesmo ritual acima sem o fogo, usando esse tipo de água.

 

Ritual individual

Exemplo: 1. Lave-se e vista roupas limpas. 2. Antes de começar o ritual, acenda o fogo sagrado e recite um hino a Héstia, como o 24º de Homero. 3. Purificação. Declare que o espaço é puro para o festival e sacrifício aos deuses. Há um exemplo de ritual de purificação também nesta parte de Ortopraxia. 4. Ofertas, normalmente de cevada. Se faltar cevada, ofereça fruta, incenso, bolos, ou o que for apropriado para o festival ou o ritual em questão. 5. Invocação do/a deus/a ou deuses. Este é o prato principal da cerimônia, onde você demonstra suas intenções e por que está fazendo este ritual para o deus, agradecendo-o(a/s) pela ajuda passada e presença, e possivelmente oferecendo suas próprias esperanças e preces com relação ao futuro, também de acordo com o apropriado. 6. Sacrifício e mais ofertas. Libações de leite, mel, vinho, azeite, ou água, serve. Isso pode ser feito libando-o/a dentro de um tigela, que depois vai ser levada para fora ou despejada numa pia se você estiver limitado de espaço. 7. Conclusão. Agradeça ao/à(s) deus/a(s).

Ritual em grupo

(Exemplo feito por Alexandra, baseado no livro de Drew Campbell "Old Stones, New Temples"): 1. Preparação: Lavem-se, vistam roupa limpa e coloquem coroas de folhas/flores em suas cabeças. Façam-nas com galhos trançados juntos. Antes de começar o ritual, o fogo sagrado já foi aceso. Em lugares fechados, você pode usar um suporte alto de vela. Nos tempos antigos, o fogo sagrado a Héstia era sempre mantido aceso nos lares. Por razões de segurança, você pode não querer fazer isso. Se quiser tentar, use velas de sete dias. Se fosse um ritual ao ar livre, o fogo não tinha como ficar aceso sempre e ficava aceso apenas durante o festival durante uma cerimônia especial. Ao acendê-lo, pronuncie um Hino Homérico a Héstia. Você também vai precisar de um fogo no qual queimar as ofertas - recomendo um caldeirão de ferro preenchido com sal amargo e álcool em gel no qual é então aceso o fogo. 2. Procissão:

Os participantes vão até o altar na seguinte ordem: A cesta de sacrifício é carregada na cabeça de uma moça inocente. Esta cesta contém a faca a ser usada para o sacrifício, oculta entre cevada ou bolos. Um vaso contendo água é carregado pelo carregador-de-água (hydrophoros).

Um queimador de incenso. Tochas. Na falta de tochas, use velas. Um ou mais músicos - em tempos antigos, um tocador de flauta. 3. Circumambulação: O círculo é marcado pelo carregar do cesto de sacrifício e vaso de água pelas pessoas que os trouxeram. Todos ficam parados em torno do altar enquanto as pessoas que trazem o cesto e a água caminham em volta dos participantes, do animal a ser sacrificado, do altar e do próprio local. "O sagrado é delimitado do profano". Agora vai começar a preparação para o sacrifício. 4. Katarchesthai (ou "um começo"): A água é derramada do vaso sobre as mãos dos participantes. O animal também é borrifado com água. Em tempos antigos, o animal devia tremer ou acenar com a cabeça, o que significava que ele assentia em ser sacrificado. Em vez de um animal, a gente pode substituir parte do banquete que está para ser comido - carne é obviamente recomendada - ou algo para representar o animal. Cada um dos participantes enche a mão de cevada e a atira no animal e no altar, todos juntos. 5. Aparchesthai (ou "último começo"): A faca de sacrifício é descoberta

A pessoa que fará o sacrifício (sacerdote/sacerdotisa do ritual) oculta a faca e vai até o animal e corta parte de seu cabelo/pêlo e o atira no fogo. 6. Prece ou Hymnodia: Aqui é quando você recita um hino apropriado ao deus/a ou deuses entre os hinos de Homero ou dos Órficos. Normalmente se escolhe um apropriado para a ocasião ou o festival. Esta é a parte principal da cerimônia. [Nota (observação de outro autor): "Primeiro se carrega o cesto, o vaso de água, as tochas, e se conduz o animal; depois vem os estágios do começo, a prece, o abate, o esfolamento, e o desmembramento; depois vinha o ato de assar, primeiro do 'splanchma' (fígado), depois do resto da carne, então as libações de vinho, e finalmente a distribuição da carne" (Walter Burkert, no livro "Greek Religion"). Nessa ordem, a prece claramente acontece depois dos estágios de início citados acima.] 7. Sacrifício: Animais menores são erguidos sobre o altar, ou então são deixados parados de pé no altar. Antigamente, a garganta era cortada. Aqui seria quando se cortaria a carne ou oferta em comida - talvez possamos ser criativos e encontrar um modo de rechear ou cobrir uma carne ou frango com azeite. O sangue era coletado em uma bacia e espalhado sobre o altar (normalmente feito de pedra). Então, azeite de oliva pode ser conveniente para isto, como descrito acima. Uma mulher grita em "altos tons agudos". O animal era então esfolado e abatido, os órgãos internos assados no fogo. Se você estiver ao ar livre, pode incluir uma pequena contra-tampa de grelha no topo do altar perto do fogo onde as ofertas estão sendo queimadas. A primeira prova da carne/oferta era "privilégio e dever do círculo mais interno de participantes", incluindo o sacerdote/sacrificador. O que era comido a este ponto era uma pequena parte do animal/oferta. Isto pode ser replicado cortando um pedaço de qualquer comida que você estiver sacrificando. Os ossos e outras partes não-comestíveis do animal/oferta foram consagradas ao serem postas no fogo. Era costume oferecer a primeira porção do sacrifício para Héstia. Comida e outras ofertas eram queimadas, incluindo vinho, bolos e caldos. 8. Libações: Leite, mel, vinho, azeite de oliva, ou água, eram tradicionais. O mais comum era vinho. Tradicionalmente, uma pessoa verte a oferta, clama "Sponde!" (pronúncia: spon-DÊ), que significa "uma oferta líquida". Se isso for feito ao ar livre ou se você estiver usando o caldeirão de ferro descrito acima, a libação é vertida no fogo. De outra forma, você pode vertê-la dentro de um recipiente o qual é levado para fora mais tarde. Uma variação disto é ter cada um dos participantes recebendo taças de vinho individuais. Eles bradam "Sponde", dão um gole, depois libam. Era freqüentemente habitual oferecer a primeira e última da libação para Héstia, como vemos no Hino Homérico a Héstia. 9. Refeição ritual: A este ponto, você declara que o ritual acabou, e a este ponto você come um banquete especial, tanto sozinho quanto com convidados. Aqui é onde o resto da carne é distribuída para o resto dos participantes do ritual.

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