EXEMPLOS DE RITOS:
Fazendo água lustral
Primeiro ore sobre o fogo da vela, pedindo a Héstia para abençoá-la, de preferência usando um Hino Homérico a Héstia. Depois pegue um feixe de sálvia ou palito de incenso*, acenda-o com a vela já abençoada e coloque-o na água**, dizendo: "Kherniptomai! Seja esta água purificada pelo fogo sagrado!" (Pronúncia: khêr-NIP-tô-mai.) A palavra "khernips" significa "água lustral", então 'kherniptomai' é o ato de torná-la lustral.
*O feixe de sálvia ou palito de incenso era o que antigamente seria um pedaço de madeira que esteve em contato com a água, tornando a água sagrada. Também já ouvi falar de madeira de cortiça, mas a sálvia é boa por podermos tanto usá-la para tocar a água com seu fogo quanto para aspergir. Se quiser ser bem tradicional, use um galho com folhas de uma árvore - de tamanho razoável, não maior do que sua mão agüenta. **Ao pegar o fogo da vela que foi abençoada por Héstia, você está purificando a água com o fogo que foi consagrado.
Consagração de um novo altar
Um espaço sagrado pode ter vários nomes. Antigamente, o "templo" era a casa da imagem de culto da deidade e o "temenos" era o lugar de adoração. No centro dele, ficava o "bomos" (altar), onde era realizado o sacrifício. Hoje, que não temos templos, temos os locais sagrados onde os ícones da deidade ficam (temenos) e que podem servir também como um altar (bomos). O mais comum é vermos um altar principal cercado de vários "temenos", sendo que os dos deuses patronos são os mais importantes. Há normalmente um temenos também para os ancestrais e os mortos, e outro para observação dos festivais do calendário. As pessoas que cuidam do local sagrado (mantendo-o e limpando-o) atualmente costumam acumular outras funções, que incluem trabalho oracular, aconselhamento e orientação espiritual. A cerimônia em que essa pessoa aceita a responsabilidade de cuidar de um "templo" (ou espaço sagrado) é chamada de instalação ou consagração. Para isso, ela precisa preparar o espaço ritual, usar uma roupa limpa, trazer um presente para cada um dos patronos, uma oferta de sacrifício e os implementos usuais. Na noite anterior ao ritual, é bom que haja um banho de purificação com ervas do tipo sálvia, alecrim, lavanda e louro, pedindo a Apolo e Zeus que a pessoa consiga se manter pura. Se possível, use água de uma fonte, como faziam os antigos. No dia seguinte, pela manhã ou tarde, faz-se o ritual de purificação tradicional, banindo o mal e o profano, e então faz-se uma prece como esta: “Este espaço sagrado foi criado para o culto aos nossos deuses. Que eu possa cuidá-lo, defendê-lo, protegê-lo, e esteja preparado/a para mantê-lo puro e sacro pelo tempo que os Destinos permitirem. Sob os olhos de Hélio, trago estes presentes aos patronos deste tememos. Que Eles me possam ser favoráveis enquanto eu manter este espaço a Eles dedicado, e que possam me guiar pela prática correta que realizarei nele. Em troca, procurarei sempre fazer-lhes ofertas, sejam elas simples como um beijo ou grandiosas como uma estátua.” Em seguida, os presentes aos patronos são entregues, há ofertas de cevada, preces, libações, e pode-se consultar um oráculo pedindo aos deuses que lhe dêem algum conselho sobre o que será feito nesse novo espaço de culto. Os ancestrais também podem receber ofertas e serem igualmente consultados. Ao final de tudo, pode-se realizar um banquete, ou concluir o seu ritual como de costume.
Cerimônia Menor de Consagração de Ferramenta (Η Ελασσον Εργαλείο Τελετε)
Este é um ritual simples de consagração, apenas para purificar o objeto e oferecê-lo em serviço devocional. Se você vai usar algo em festivais e ritos, realize esta pequena cerimônia. Ela pode ser feita desde assim que o objeto for adquirido até imediatamente antes da ocasião em que será utilizado. Trata-se de uma simplificação da Cerimônia Maior de Consagração de Ferramenta (Η Μείζων Εργαλείο Τελετε), que foi baseada em textos extraídos do livro Ta Hiera, da Biblioteca Arcana e dos Papiros Mágicos Gregos (PGM). ₪ Material necessário: Sal (de preferência do mar), água, incenso, vela ou outro fogo de altar, raminho ou algo semelhante (para tornar a água lustral e para aspersão) e objetos cerimoniais a serem consagrados. ₪ Procedimentos: 1. Prepare o altar com o material necessário e as imagens/símbolos das deidades. (Os deuses das ferramentas são Atena e Hefesto, mas você pode incluir os deuses referentes a cada objeto, como Apolo para um instrumento musical, Ares para uma arma branca, Hera para uma aliança de compromisso etc.); 2. Tenha as ferramentas a serem consagradas em cima ou perto do altar; 3. Acenda e consagre a vela a Héstia. (Isto se faz recitando um hino a Héstia com a mão sobre a chama, de preferência um hino homérico, e melhor ainda se for em grego.); 4. Transforme a água em água lustral (khernips). (Isto se faz com um ramo aceso na chama da vela consagrada, que é encostado na água ao se dizer ‘Kherniptomai – que esta água seja purificada pelo fogo sagrado’.); 5. Para cada ferramenta a ser consagrada, faça o seguinte: a) Erga a ferramenta, saúda cada deidade do altar (Khaire Atena! Khaire Hefesto!) e diga a prece: “Convido a Vós e a todos os deuses das artes e ofícios! Dedico e consagro este -[anel]- (adaga, amuleto etc) a Vós. Se alguma vez cumpri meus votos e agradei Vossos corações, limpai agora est-[e anel]- de toda a mancha e toda a corrupção. Purifique-o para meu uso e Vosso serviço.” b) Medite na ferramenta, sua história, construção, propósito, como chegou às suas mãos, sua pretensão para ela; concentre-se no processo do que está sendo purificado neste ritual. c) Salpique-a com sal (representando a Terra). d) Borrife-lhe água lustral (representando a Água). e) Passe-a pela fumaça do incenso (representando o Ar). f) Passe-a pela chama da vela, ou pelo calor acima da chama (representando o Fogo). g) Segure a ferramenta no alto, aponte para ela com o polegar e indicador unidos e diga: “Eu te encarrego pelos poderes das deusas e deuses, pelo sol, lua e estrelas, pelo fogo, água, terra e ar, para servir as deusas e deuses através de mim. Eu te consagro pelos nomes de Atena, de Hefesto [e de...]. Ésto! (Assim seja!)” 6. Após consagrar todos os objetos, agradeça aos deuses e encerre o ritual como de costume.
Ritual de Purificação
Você pode (e deve) usar isto como purificação para abrir um festival, para consagrar um espaço, para "banir" coisas ruins quando você se mudar para uma casa nova, ou qualquer coisa assim. É um ritual básico e um dos primeiros a ser aprendido. 1. Primeiro ora-se sobre o aparador de vela (com a vela) e o incensário, pedindo a Héstia para abençoar a ambos, de preferência usando um Hino Homérico a Héstia. 2. Depois vem a purificação: "Hekas, hekas, este bebeloi! Que os profanos vão embora!" (Pronúncia: heKÁS, heKÁS, eSTÊ beBÊloi.) 3. Então pegue um feixe de sálvia ou palito de incenso, acenda-o com a vela já abençoada e coloque-o na água, dizendo: "Kherniptomai! Seja esta água purificada pelo fogo sagrado!" (Pronúncia: khêr-NIP-tô-mai.) A palavra "khernips" significa "água lustral". 4. Circumambule em torno do altar, parando na frente do altar. Então borrife o altar, as ofertas e as pessoas com a khernips. Enquanto asperge a água, diga: "O theoi genoisthe apotropoi kakon! Ó deuses, mandem embora o mal!" (Pronúncia: Ó the-ÓI, gue-nois-THÊ a-pos-tro-POI ka-KON.) 5. A tigela é retirada do altar para fora do quarto, estando agora impura. A água usada deve ser vertida diretamente na terra do lado de fora do temenos depois do ritual. ₪ Explicações: O feixe de sálvia ou palito de incenso era o que antigamente seria um pedaço de madeira que esteve em contato com a água, tornando a água sagrada. Também já ouvi falar de madeira de cortiça, mas a sálvia é boa por podermos tanto usá-la para tocar a água com seu fogo quanto para aspergir. Se quiser ser bem tradicional, use um galho com folhas de uma árvore - de tamanho razoável, não maior do que sua mão agüenta. / Ao pegar o fogo da vela que foi abençoada por Héstia, você está purificando a água com o fogo que foi consagrado. / Circumambulação = circular o altar, com a água e o cesto de cevada. / Talvez seja até melhor você aspergir o altar ANTES de circumambular, já que a após a circumambulação a água estaria "suja" ao ter recolhido as impurezas do aposento. / Algumas pessoas dizem algo durante a circumambulação, outras preferem o silêncio. Se for falar, você pode fazer uma prece para Apolo, deus da purificação. / Outro método de purificação sem o fogo (especialmente se você mora num lugar onde não pode fazer essas coisas), é obter água de um córrego, lago, lagoa, riacho - qualquer corpo natural de água - ou mesmo coletar água da chuva para usar durante o ritual. Você pode fazer o mesmo ritual acima sem o fogo, usando esse tipo de água.
Ritual individual
Exemplo: 1. Lave-se e vista roupas limpas. 2. Antes de começar o ritual, acenda o fogo sagrado e recite um hino a Héstia, como o 24º de Homero. 3. Purificação. Declare que o espaço é puro para o festival e sacrifício aos deuses. Há um exemplo de ritual de purificação também nesta parte de Ortopraxia. 4. Ofertas, normalmente de cevada. Se faltar cevada, ofereça fruta, incenso, bolos, ou o que for apropriado para o festival ou o ritual em questão. 5. Invocação do/a deus/a ou deuses. Este é o prato principal da cerimônia, onde você demonstra suas intenções e por que está fazendo este ritual para o deus, agradecendo-o(a/s) pela ajuda passada e presença, e possivelmente oferecendo suas próprias esperanças e preces com relação ao futuro, também de acordo com o apropriado. 6. Sacrifício e mais ofertas. Libações de leite, mel, vinho, azeite, ou água, serve. Isso pode ser feito libando-o/a dentro de um tigela, que depois vai ser levada para fora ou despejada numa pia se você estiver limitado de espaço. 7. Conclusão. Agradeça ao/à(s) deus/a(s).
Ritual em grupo
(Exemplo feito por Alexandra, baseado no livro de Drew Campbell "Old Stones, New Temples"): 1. Preparação: Lavem-se, vistam roupa limpa e coloquem coroas de folhas/flores em suas cabeças. Façam-nas com galhos trançados juntos. Antes de começar o ritual, o fogo sagrado já foi aceso. Em lugares fechados, você pode usar um suporte alto de vela. Nos tempos antigos, o fogo sagrado a Héstia era sempre mantido aceso nos lares. Por razões de segurança, você pode não querer fazer isso. Se quiser tentar, use velas de sete dias. Se fosse um ritual ao ar livre, o fogo não tinha como ficar aceso sempre e ficava aceso apenas durante o festival durante uma cerimônia especial. Ao acendê-lo, pronuncie um Hino Homérico a Héstia. Você também vai precisar de um fogo no qual queimar as ofertas - recomendo um caldeirão de ferro preenchido com sal amargo e álcool em gel no qual é então aceso o fogo. 2. Procissão:
Os participantes vão até o altar na seguinte ordem: A cesta de sacrifício é carregada na cabeça de uma moça inocente. Esta cesta contém a faca a ser usada para o sacrifício, oculta entre cevada ou bolos. Um vaso contendo água é carregado pelo carregador-de-água (hydrophoros).
Um queimador de incenso. Tochas. Na falta de tochas, use velas. Um ou mais músicos - em tempos antigos, um tocador de flauta. 3. Circumambulação: O círculo é marcado pelo carregar do cesto de sacrifício e vaso de água pelas pessoas que os trouxeram. Todos ficam parados em torno do altar enquanto as pessoas que trazem o cesto e a água caminham em volta dos participantes, do animal a ser sacrificado, do altar e do próprio local. "O sagrado é delimitado do profano". Agora vai começar a preparação para o sacrifício. 4. Katarchesthai (ou "um começo"): A água é derramada do vaso sobre as mãos dos participantes. O animal também é borrifado com água. Em tempos antigos, o animal devia tremer ou acenar com a cabeça, o que significava que ele assentia em ser sacrificado. Em vez de um animal, a gente pode substituir parte do banquete que está para ser comido - carne é obviamente recomendada - ou algo para representar o animal. Cada um dos participantes enche a mão de cevada e a atira no animal e no altar, todos juntos. 5. Aparchesthai (ou "último começo"): A faca de sacrifício é descoberta
A pessoa que fará o sacrifício (sacerdote/sacerdotisa do ritual) oculta a faca e vai até o animal e corta parte de seu cabelo/pêlo e o atira no fogo. 6. Prece ou Hymnodia: Aqui é quando você recita um hino apropriado ao deus/a ou deuses entre os hinos de Homero ou dos Órficos. Normalmente se escolhe um apropriado para a ocasião ou o festival. Esta é a parte principal da cerimônia. [Nota (observação de outro autor): "Primeiro se carrega o cesto, o vaso de água, as tochas, e se conduz o animal; depois vem os estágios do começo, a prece, o abate, o esfolamento, e o desmembramento; depois vinha o ato de assar, primeiro do 'splanchma' (fígado), depois do resto da carne, então as libações de vinho, e finalmente a distribuição da carne" (Walter Burkert, no livro "Greek Religion"). Nessa ordem, a prece claramente acontece depois dos estágios de início citados acima.] 7. Sacrifício: Animais menores são erguidos sobre o altar, ou então são deixados parados de pé no altar. Antigamente, a garganta era cortada. Aqui seria quando se cortaria a carne ou oferta em comida - talvez possamos ser criativos e encontrar um modo de rechear ou cobrir uma carne ou frango com azeite. O sangue era coletado em uma bacia e espalhado sobre o altar (normalmente feito de pedra). Então, azeite de oliva pode ser conveniente para isto, como descrito acima. Uma mulher grita em "altos tons agudos". O animal era então esfolado e abatido, os órgãos internos assados no fogo. Se você estiver ao ar livre, pode incluir uma pequena contra-tampa de grelha no topo do altar perto do fogo onde as ofertas estão sendo queimadas. A primeira prova da carne/oferta era "privilégio e dever do círculo mais interno de participantes", incluindo o sacerdote/sacrificador. O que era comido a este ponto era uma pequena parte do animal/oferta. Isto pode ser replicado cortando um pedaço de qualquer comida que você estiver sacrificando. Os ossos e outras partes não-comestíveis do animal/oferta foram consagradas ao serem postas no fogo. Era costume oferecer a primeira porção do sacrifício para Héstia. Comida e outras ofertas eram queimadas, incluindo vinho, bolos e caldos. 8. Libações: Leite, mel, vinho, azeite de oliva, ou água, eram tradicionais. O mais comum era vinho. Tradicionalmente, uma pessoa verte a oferta, clama "Sponde!" (pronúncia: spon-DÊ), que significa "uma oferta líquida". Se isso for feito ao ar livre ou se você estiver usando o caldeirão de ferro descrito acima, a libação é vertida no fogo. De outra forma, você pode vertê-la dentro de um recipiente o qual é levado para fora mais tarde. Uma variação disto é ter cada um dos participantes recebendo taças de vinho individuais. Eles bradam "Sponde", dão um gole, depois libam. Era freqüentemente habitual oferecer a primeira e última da libação para Héstia, como vemos no Hino Homérico a Héstia. 9. Refeição ritual: A este ponto, você declara que o ritual acabou, e a este ponto você come um banquete especial, tanto sozinho quanto com convidados. Aqui é onde o resto da carne é distribuída para o resto dos participantes do ritual.