Sobre o Deipnon
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  • Foto do escritorAlexandra Oliveira

Sobre o Deipnon

(texto de 2009, de http://www.mlahanas.de/Greeks/LX/Deipnon.html, tradução resumida da Alexandra) Deipnon (δεῖπνον) era a refeição principal dos gregos, mais como um jantar do que como uma ceia. Em Homero, vemos reis e homens compartilhando comida e figuras da realeza preparando suas próprias refeições. O nome dos pratos na Ilíada e Odisséia são "áriston, deipnon, dórpon", o primeiro a refeição mais cedo e o último a mais tarde, mas o deipnon - geralmente significando a refeição no meio do dia - às vezes é usado em lugares onde esperaríamos ver áriston (Od.XV,397) ou até dórpon (Od.XVII, 170). Na era homérica era comum cada convidado sentar-se à sua mesa, com uma partilha igual de comida diante de cada, exceto quando um convidado especialmente distinto era honrado com uma porção maior. A refeição tinha um caráter religioso, como um sacrifício, começando por oferecer parte da carne aos deuses e libar vinho ao início e ao final da refeição. Bife bovino, carne de carneiro e de cabra eram as mais comuns, geralmente assadas, às vezes cozidas. Peixes e aves eram quase desconhecidos. Vários tipos de vinho são mencionados, especialmente o Maronean(1) e o Pramnian(2). Nestor tinha um vinho envelhecido 11 anos. Uma pequena quantidade era vertida em cada taça dos convidados para fazer uma libação antes do vinho ser servido para ser bebido. Os convidados bebiam uns à saúde dos outros, e uma segunda libação aos deuses fechava o repasto. Os gregos de uma era posterior à era de Homero participavam de três refeições: akrátisma, áriston e deipnon. Esta última correspondia ao dórpon dos poemas homéricos, a refeição do começo da noite, o jantar, enquanto o áriston era o almoço e o akrátisma era o que para Homero era o áriston, a refeição feita mais cedo, o desjejum. O akrástima normalmente consistia de pão mergulhado em vinho não misturado (ákratos), do qual se deriva seu nome. O áriston, por volta do meio do dia, correspondia ao prandium romano, das 9 às 12 da manhã, e era normalmente uma refeição simples, quase um lanche, mas isso variava de acordo com os hábitos individuais. O deipnon era a refeição principal, depois do pôr-do-sol. Os atenienses eram sociáveis e adoravam companhia no jantar. Havia entretenimentos, com sacrifícios aos deuses, seja em ocasiões públicas ou privadas, ou aniversários dos membros da família ou de pessoas ilustres, seja vivos ou mortos. Clubes de jantar eram comuns, os membros pagavam certa quantia, chamada symbolí, ou traziam suas próprias provisões com eles. Quando se decidia pelo dinheiro (apó symbolón deipneín), um indivíduo era encarregado de pegar o dinheiro e comprar as provisões necessárias e fazer todas as preparações. Quando se decidia pelas provisões, elas eram levadas em cestas, e por isso chamadas 'apó spyrídos deipneín' por Xenofonte, que depois foi chamada de 'éranos' por Homero, já que eilapíni denotava um entretenimento público em um festival ou outra ocasião. Mas o mais comum era a pessoa convidar os amigos para a sua casa. Os escravos tiravam os sapatos dos convidados na entrada e lavavam seus pés. Então eles se reclinavam nos κλῖναι (kline) ou sofás. Sentar-se era comum na era heroica, mas no período clássico só acontecia em Creta. As mulheres só iam aos banquetes em algumas ocasiões, como um casamento ou funeral. Ainda assim, os homens costumavam ficar reclinados enquanto mulheres e crianças ficavam sentados a seu lado. As que se reclinavam eram as hetairas. O mais comum era apenas duas pessoas reclinadas em cada sofá, mas às vezes há um numero maior em um único κλίνη. O convidado reclinava com o braço esquerdo em travesseiros listrados (ὑπαγκώνια) e ficavam com o braço direito livre (conforme Aristófanes). Depois de os convidados reclinarem, os eslavos lhes levavam água para lavar as mãos, e então o jantar era servido - não apenas os pratos, mas as próprias mesas. Parece que era uma mesa ou trípode com provisões em cima que era colocada diante de cada κλίνη, e - se houvesse mais de duas pessoas em cada, haveria mais mesas. Claro que eram mesas pequenas o bastante para serem movidas com facilidade. Ao comer, os gregos não usavam facas ou garfos, mas principalmente os dedos, exceto no caso de sopas e outros líquidos, quando usavam uma colher (μύστρον - místron) ou um pedaço de pão escavado no formado de colher (μυστίλη - mistíle). Depois de comer, eles esfregavam/limpavam os dedos em pedaços de pão, chamados de ἀπομαγδαλιαί, que depois eram atirados aos cães. Os guardanapos (χειρόμακτρα) não eram usados até o período romano. O escravo que era o gerente/chefe responsável/encarregado pela organização do jantar era chamado de τραπεζοποιός ou τραπεζοκόμος (trapezo=mesa). E a palavra grega para menu era γραμματίδιον (gramatídion). A comida mais comum entre os gregos era o μάζα (mádza), uma espécie de bolo macio, preparado de várias formas, já que ele tinha vários nomes diferentes. O φυστὴ μάζα era feito de cevada e vinho. O μάζα continuou por muito tempo a ser a comida comum das classes mais baixas. Pão de trigo ou cevada era a segunda espécie de comida mais comum. Os vegetais mais consumidos eram as malvas (μαλάχη), alfaces (θρίδαξ), repolhos (ῥάφανοι), vagens/favas (κύαμοι), lentilhas (φακαῖ) etc. Porco era a comida animal favorita. Salsichas eram também muito comumente ingeridas. Platão observou que é um fato curioso que não vemos os heróis comendo peixe em Homero. Mais tarde, porém, o peixe era uma das comidas favoritas dos gregos, tanto que o nome de ὄψον foi aplicado a ele κατ ἐξοχήν. Um relato dos peixes que os gregos eram acostumados a comer aparece no final do sétimo livro de Atenaus, em ordem alfabética. Um jantar oferecido por um ateniense opulento usualmente consistia de duas partes, chamadas de πρῶται τράπεζαι (próte trápeze) e δεύτεραι τράπεζαι (déftere trápeze). Depois da conquista da Grécia pelo império romano, passou a ser três partes. A primeira parte era tudo aquilo que consideramos o jantar propriamente dito: peixe, aves domésticas, carne etc (ἐδέσματα); o segundo, que correspondia à nossa sobremesa, consistia de diferentes tipos de fruta, doces, confeitos etc (τρωγάλια). Com os romanos, acrescentou-se uma primeira parte antes dessas duas, feita de saladas, vegetais etc. Quando a parte das carnes terminava, as mesas eram retiradas e água era servida aos convidados para lavar as mãos. Coroas feitas de guirlandas de flores também lhes eram dadas, e vários tipos de perfumes. O vinho não era bebido até essa primeira parte ser terminada; mas, depois que eles lavavam as mãos, vinho sem misturar era produzido em uma grande taça, chamada μετάνιπτρον (metániptron) ou μετανιπτρίς (metanoptrís), da qual cada um bebia um pouco, depois vertendo uma pequena quantidade como libação. Essa libação era para o "bom espírito" (ἀγαθοῦδαίμονος - agathosdaimon), e normalmente era acompanhada pelo canto do peã e pelo som de flautas. Depois dela, vinho misturado era trazido, e com seu primeiro copo os convidados bebiam a Ζεὺς Σωτήρ (Zeus Sotér, o salvador). Com o σπονδαί (spondê, libação), o δεῖπνον se encerrava, e na introdução da sobremesa (δεύτεραι τράπεζαι) o πότος (pótos - festa com bebidas), συμπόσιον (simpósio), ou κῶμος (kómos - procissão, festival) começava. Notas da tradutora: 1 - Maronean era um vinho negro e adocicado, muito elogiado por Homero. Ele era misturado em água, segundo o costume. 2 - Pramnian era um vinho vermelho mas não doce, encorpado e forte, parecido um pouco com o vinho do porto.



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