(por Thiago Oliveira, +/- 2011) Você tem medo de cobra? Talvez você não tenha reparado, mas a figura da serpente está presente no culto a vários deuses. Quando você parar pra pensar nisso, provavelmente se lembrará da figura de Apollon, certo? Mas não é só o deus iluminado que tem a serpente como atributo. Hermes, Deméter, e até mesmo Atena e Asclépio têm a serpente como símbolo e animal sagrado. Deuses diferentes, com atributos e dons tão díspares mas com um símbolo comum. O que será que a serpente significa ? O medo e o asco com relação às cobras não e algo natural. Na linha de tempo da humanidade, apareceu junto com o Cristianismo e suas interpretações para a gênese do mal na serpente que tentou Eva, a segunda mulher de Adão; segundo alguns a serpente é a própria Lilith, mulher primeira do mesmo Adão, segundo os evangelhos apócrifos. Antes da Idade Média e a perseguição aos cultos pagãos e politeístas de forma geral, a serpente não era vista tal como é: temida e ameaçadora. Era uma animal de grande poder e simbolismo. Provas disso podem ser atestadas quando se observa as obras e simbolismos das tradições Xamânicas e Alquimistas. Nos tempos pré-helênicos, a serpente era representada fundamentalmente na figura de deusa Python. Python, a grande serpente, era filha da Terra sem pai. A sua representação mais conhecida está no mito do nascimento de Ártemis e Apollon. Python simbolizava o aspecto profético presente do Oráculo de Delfos, até então controlado pelas Pithonisas, as sacerdotisas do Santuário; mesmo após o santuário ser invadido pelos Sacerdotes de Apollon, as Pitonisas continuaram como sendo as donas do santuário, que agora pertencia à Apollon Pythios (ou Pythian, que significa assassino de Python). Por que Apollon matou Python todos sabem. Mas o fato fundamental aqui é o simbolismo dessa antiga deusa. Python nascera após o Dilúvio, da lama da Terra. Como tal vivia sob a terra e portanto conhecia todos os segredos da Terra. Segundo alguns historiadores, as Pitonisas recebiam o oráculo pela inalação de odores que vinham das entranhas da terra e que deixavam a Sacerdotisa em estado alterado de consciência. Era durante esse estado que as mensagens eram recebidas. As representações e cultos mais antigas referentes às Serpentes e os deuses que a têm como símbolos, remontam a região agrária. Basta lembrar que é a serpente que come os ratos, praga das plantações de milho. Não é mesmo? Aqui reparece a figura de Apollon, o guardião das safras. As serpentes são répteis rastejantes, até aqui nenhuma novidade, certo? Mas o que simboliza mesmo a terra, Géia ,qual seu simbolismo? Segundo Demócrito, o primeiro filósofo a estabelecer uma divisão dos elementos, a terra é o elemento denso, é a matriz de todas as forças da natureza e também é o resultado da soma de todas as forças da natureza. Como elemento fixo e denso é de onde vieram todas as coisas, mas também é o resultado de todas as coisas juntas. A terra é o arcano da sabedoria ancestral, do conhecimento psíquico e do auto-entendimento. É o inconsciente escondido em nossas mínimas ações. Onde vivia Python? Nas profundezas! Coincidência ?Não. A comparação a analogia é a base do pensamento organizado. Deméter, Cibele, Réia e Géia têm a serpente como símbolo. Ela é por excelência o glifo mais coerente com as forças da terra, pois abarca em si todas a potências. Não vê, assim como a terra, não sente cheiro, mas têm em si as forças vitais que fazem com que se possa ouvir e sentir o cheiro. Em Deméter, a serpente afigura o domínio da terra, a capacidade de manipular as coisas para o benefício de um número: a transmutação. Da mesma forma pode-se interpretar a serpente em Cibele e Réia. Em Géia serpente é afigura que guarda em si os filhos em crescimento, para protegê-los do mundo e logo após os devolver fortes e imponentes sobre a sua própria superfície, assim como algumas espécies de serpentes que são ovovivíparas e retém os ovos dentro dos seus corpos até estes se encontrarem prestes a eclodir. Na tradição xamã, a cobra/serpente tem uma vasta gama de simbolismo. Pode significar desde a sensualidade até a cura. Apollon tem a serpente como símbolo de força, sabedoria e superação, e Asclépio, seu filho, que interessara-Se pelos dons da cura após ver uma serpente se regenerando após ter sido morta pelo mesmo, então pegou-a e fixou-a em seu bastão, que então tornou-se seu símbolo, a cura e de regeneração. Ao se falar nas serpentes de Asclépio, não esqueçamos também o divino caduceu de Hermes que, a propósito, foi-Lhe dado pelo próprio Apollon. Diferente do Caduceu, o Bordão de Asclépio apresenta apenas uma serpente. O Bordão de Esculápio simboliza as artes curativas, combinando a serpente, cuja mudança da pele é símbolo de renascimento e fertilidade, com o bastão, símbolo da autoridade digna do Deus da Medicina. O caduceu apresenta duas serpentes. Tais serpentes representam os pilares cósmicos do universo e portanto forças complementares (daí as serpentes se enroscarem ao longo do caduceu). As duas serpentes de seu caduceu eram a Agathe Tyche e o Agathos Daimon, a boa Fortuna e o bom Espírito Na tradição Alquímica, ambas as serpentes representam o aspecto e a polaridade feminina do universo , com sua energia fértil e maternal, a passo que princípio masculino é simbolizado pelo bastão, o poder viril e fecundador, vivificante. O arauto dos deuses por diversas vezes aparece como apaziguador de desavenças. Na Índia, as duas serpentes representam as ascensão da Kundalini. Hoje o caduceu é o símbolo das ciências contábeis, e Hermes não é justamente o deus do comércio e dos ladrões (não foi ironia, apenas uma observação). Hermes tem a serpente como símbolo do equilíbrio e das potências opostas do universo, que ele apazígua por vezes. É o caminho do meio, o destino. O carro no tarô de Marselha. Mas, e Atená? A serpente de Atená pode parecer óbvio, simboliza a sabedoria,certo? Não exatamente. Como já se foi dito, as serpentes se relacionam ao elemento Terra, porém, Atená não está sob seus auspício, e sim no ar. Em Atená, a serpente afigura a habilidade, assim como Hermes de conduzir as estratégias de forma sábia, para se chegar sempre ao sucesso (não exatamente na vitória, por vezes). É a artimanha, a destreza do pensamento organizado e inteligente. A defesa, pois assim como a deusa, as cobras apenas defendem a si mesmas e a seu território. Não se pode esquecer Dioniso. Serpente = Dioniso = sexualidade, certo? É... talvez sim, mas não exatamente. Dioniso é o deus da transmutação, da evolução. A serpente, no culto à Dioniso é símbolo é a somatória de todos os significados predecessores. É a cura, regeneração e transmutações, pois ele é o duas vezes nascido; é a sexualidade e a fertilidade, pois a ligação dEle com tais aspectos é inegável. É a sabedoria e o equilíbrio, pois é a síntese fundamental das polaridades da natureza. Talvez ao fim desse texto você ainda tenha medo de cobras. É compreensível; também tenho. Mas ao menos as verá sob uma nova forma, mais respeitosa e consciente. Mesmo que não goste das sujeitas, as respeite como qualquer ser da natureza, afinal... nunca se sabe, não é mesmo ?? Fiquem na paz dos deuses.
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