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  • Foto do escritorAlexandra Oliveira

Festas em honra a Dioniso

(por Odsson Ferreira, +/- em 2010) Dionísias Rurais - Celebravam-se no mês Posídon, o que corresponde, mais ou menos, à segunda metade de dezembro. São as mais antigas das festas áticas de Dionisio, mas pouco se sabe, até o momento, a respeito das mesmas. Realizavam-se apenas nos "demos", isto é, nos burgos da Ática, dependendo o brilho de tais festejos dos recursos de cada um dos cem demos que constituíam a terra de Platão. A cerimônia central consistia num kômos, quer dizer, aqui no caso, numa alegre e barulhenta procissão com danças e cantos, em que se escoltava um enorme falo. Os participantes dessa ruidosa falofória cobriam o rosto com máscaras ou disfarçavam-se em animais, o que mostra tratar-se de um sortilégio para provocar a fertilidade dos campos e dos lares. Aristófanes, em sua comédia engraçadíssima, Os Acarneus, nos deixou uma caricatura memorável dessas comemorações. Claro que tanto a falofória quanto os demais ritos das Dionísias Rurais precederam ao filho de Sêmele, mas este os incorporou integralmente, fazendo que se lhes esquecesse a idade milenar. A partir do século V a.e.c., no entanto, as Dionísias Rurais foram enriquecidas com concursos de tragédias e comédias. Inscrições recentes provam que em muitos demos havia bons teatros, sobretudo no Pireu, Salamina, Elêusis, Flia, Muníquia e Tórico. Lenéias - Eram celebradas em pleno inverno, no mês Gamélion, correspondente aos fins de janeiro e inícios de fevereiro, mas pouco se conhece também acerca dessa festa muito antiga do deus do vinho. O nome Lenéias, em grego (Lénaia), é uma abreviatura já comum em Atenas, pois que a designação oficial da festa era Dionisio do Lénaion, isto é, cerimônias religiosas dionisíacas que se realizavam no Lénaion, local onde se erguia o mais antigo templo do deus e, mais tarde também, um teatro. Segundo os arqueólogos que se têm ocupado da topografia da Atenas antiga, esse espaço consagrado ao deus do êxtase e do entusiasmo talvez se localizasse ou nas vizinhanças da antiga Ágora e da rampa que levava à Acrópole ou, ao contrário, na outra extremidade da rocha, que sustém a Acrópole, isto é, aos pés de sua fachada oeste. Se ainda se discute acerca da localização do Lénaion, nada de muito concreto existe a respeito de sua etimologia. A fonte tradicional de (Lénaion) é (Lenós), "largar", quer dizer, "tanque ou instalação, onde se espremiam as uvas para fabrico do vinho novo", mas a aproximação é de cunho popular. Dionísias Urbanas - Celebravam-se na primavera, no mês Elafebólion, fins de março, e a elas acorriam todo o mundo grego e embaixadores estrangeiros. Duravam Seis dias. O primeiro era consagrado a uma majestosa procissão, de que a cidade inteira participava. Nessa procissão transportava-se a estátua do deus do Teatro, de seu templo, no sopé da Acrópole, até um templo arcaico de Baco, perto da Academia, de onde o ícone era solenemente levado e colocado, por fim, na Orquestra do Teatro, que, até hoje, tem o nome do deus e que fica ao lado do santuário, de onde a estátua fora retirada. Nos dois dias seguintes realizavam-se os concursos de dez Coros Ditirâmbicos, que com seus cinquenta executantes cada um, dançavam em torno do altar de Dionisio, na Orquestra. Os concursos dramáticos ocupavam os três últimos dias. Sendo três os poetas trágicos admitidos em concurso, reprsentava-se cada manhã a obra inteira de cada um deles, a saber, via de regra, no século V a.e.c. uma tetralogia: três tragédias (de assunto correlato ou não), seguidas de um drama satírico. Anthestéria - "A Festa das Flores", que se celebravam nos dias 11, 12, e 13 do mês antestérion, fins de fevereiro, inícios de março. Trata-se, como o próprio nome expressa, de uma festa primaveril, em que se aguardava, portanto, a nova brotação, o rejuvenescimento da natureza. Embora nessas festas Dionísio imperasse inteiro, havendo por conseguinte, a quebra de todos os interditos, o Estado sempre os tolerou, uma vez que toda ruptura com tabus de ordem política, social e sexual visava não apenas à imprescindível fecundidade e à fertilidade, mas era algo que atingia tão-somente o mundo da sensibilidade, sem chegar à reflexão, como na tragédia. O primeiro dia das Antestérias denominava-se (Pithoiguía), vocábulo proveniente de píthos, "tonel", e oignýnai, "abrir": abriam-se os tonéis de terracota, em que se guardava o vinho da colheita do outono, e transportavam-nos até um Santuário de Dionísio no Lénaion, que só se abria por ocasião dessas festas da primavera. Dessacralizava-se o vinho novo, quer dizer, levantava-se o tabu que ainda pesava sobre a colheita anterior e, após uma libação a Dionisio pela boa safra, dava-se início à bebedeira sagrada. Possivelmente, como nas Dionísias Rurais e nas Lenéias, uma das características fundamentais de Dionisio, "deus do povo", é sua universalidade social. O segundo dia chamava-se (khóes), de (khóos), cântaro, cuja fonte é o verbo (khéein), "derramar". Era o dia consagrado ao concurso dos beberrões. Vencedor era aquele que esvaziasse o cântaro (três litros e um quarto) mais rapidamente. O prêmio era uma coroa de folhagens e um odre de vinho. Nesse mesmo dia, em que se celebravam as khóes, organizava-se uma solene e ruidosa procissão para comemorar a chegada do deus à polis. Mas, como Dionisio está ligado, ao elemento úmido, por ser uma divindade da vegetação, supunha-se que ele houvesse chegado a Atenas, vindo do mar. É, por esse motivo, que integrava o cortejo uma embarcação, que deslizava sobre quatro rodas d euma carroça, puxada por dois Sátiros. Na embarcação via-se o deus do êxtase, empunhando uma videira, ladeado por dois Sátiros nus, tocando flauta. Um touro, destinado ao sacrifício, acompanhava o barulhento cortejo, cujos componentes, provavelmente disfarçados em Sátiros e usando máscaras, cantavam e dançavam ao som da flauta. Quando a procissão chegava ao santuário do deus, no Lénaion, havia cerimônias várias, de que participavam a (Basílinna), isto é, a esposa do Arconte Rei e catorze damas de honra. A partir desse momento, a Basílinna, a Raiinha, herdeira da antiga reinha dos primeiros tempos da cidade, era considerada esposa de Dionisio, certamente representado por um sacerdote com máscara. Subia para junto dele na embarcação e novo corjeto, agora de caráter nupcial, conduzia o casal para (bukoleîon), etimologicamente, "estábulo de bois", mas, na realidade, uma antiga residência real na parte baixa da cidade. Ali se consumava o hieròs gámos, o casamento sagrado entre o "deus" e a rainha, conforme atesta Aristóteles, Constituição de Atenas. Observe-se que o local escolhido, o Bucolion, atesta que a hierofania taurina de Dionisio era ainda um fato comum. De outro lado, sendo a união consumada na residência real e apresentando-se Dionisio como rei, o deus estava exatamentet exercendo a função sagrada da fecundação. Essa hierogamia era, na realidade, o símbolo do casamento, da união do deus com a pólis inteira, com todas as consequencias que daí poderiam advir. O terceiro dia intitulava-se (khýtroi), "vasos de terracota, marmitas", cuja fonte é ainda o verbo (khéein), "derramar". Chegada a noite, todos gritavam: "Retirai-vos, Queres, as Antestérias terminaram".


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