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Foto do escritorAlexandra Oliveira

A Força de Ares

(por Alexandra, em dezembro de 2009)


Escrevo este artigo em prol de desfazer a ideia de Ares como deus representativo da guerra sendo esta algo ruim. Venho me erguer em defesa dessa tão necessária força em nossas vidas. Mas não se preocupe se você está entre as pessoas que não sabe bem como lidar com isso. Desde a Grécia Antiga já existiam controvérsias sobre como enxergar Ares. Homero, por exemplo, destacava o aspecto violento do deus, enquanto outros celebravam esse aspecto, embora muitas vezes de uma forma nada saudável. Até hoje há grupos helênicos que proíbem o culto a Ares, acreditando que antigamente se cultuava o deus mais por necessidade (como pedir que ficasse a seu lado em uma batalha) ou por medo (das conseqüências de ignorá-lo) do que por devoção. A verdade, entretanto, é que Ares é capaz de nos conferir coragem, força e determinação, principalmente em tempos de privações e dificuldades. Quintus Smyrnaeus e Homero eram dois que não entendiam bem dos deuses, escreviam para entreter, não para pregar. Todos os outros (Apolodoro, Pausânias, Suidas, Hesíodo, Heródoto etc) exaltavam Ares. Vamos pensar assim: Se os antigos gregos (helenos) não honravam Ares, por que então construíram o Areópago, de Areios Pagos, a “Colina de Ares”, que fica em Atenas, a noroeste da Acrópole? O mito original do Areópago é a celebração de Ares como um protetor sábio e feroz de suas crianças. Há um mito sobre o estupro da filha de Ares, Alcipe, pelo filho de Poseidon, Halirrotio. Ares teria assassinado o estuprador e tentado pelos deuses por causa isso. Em outro mito, a despeito das palavras de cuidado de Atena, ele lutou com honra e vingou seu filho Cicno. Em outro, ele puniu Cadmo por assassinar seu filho serpente. Mas os relatos mostram que ele também poderia ser misericordioso. Dizem, por exemplo, que a punição de Cadmo não foi a morte, e sim se casar com a filha de Ares, Harmonia. Descreve-se inclusive que Ares dançou no casamento de Cadmo e Harmonia, onde ele celebrou como qualquer outro pai orgulhoso faria. Por falar em dança, dizem que seu tutor Príapos ensinou Ares a dançar. E, em cada arte marcial, a primeira coisa que o discípulo aprende são as estruturas, ou seja, uma espécie ritualizada de luta, uma dança designada para o estudante praticar suas habilidades sem um oponente presente. Elas encorajam o equilíbrio, a graça e a resistência do estudante. Aprender estruturas adicionais alarga a mente, especialmente as habilidades de memória. Entender os movimentos e executá-los graciosamente são o objetivo de todo aluno. Elas são o começo e o fim das artes marciais. Como praticante, as artes marciais formam uma parte integral da nossa devoção pessoal a Ares. Para a maioria das pessoas, a guerra é um mal, e os filhos de Ares, Fobos (medo) e Deimos (pânico), nada mais são do que encrenca. Mas isso está errado. Ares é o deus do conflito. Como qualquer outra coisa que existe, ele pode ser uma coisa boa ou não, são as escolhas que fazemos que fazem um conflito ser caracterizado como bom ou ruim. Em chinês, o ideograma para crise é formado pela junção de perigo + oportunidade. O conflito é um presente para nós, use-o para seu crescimento. Até Fobos e Deimos, o medo e o pânico, podem ser bons, se forem inspirados em um oponente, ou alguém que está pensando em lhe fazer mal. Ares espera que nos preparemos para o conflito e não nos encolhamos diante dele quando ele acontecer. Ele espera que nos esforcemos para obter a vitória. Ouça os tambores. Sinta a adrenalina correr por suas veias e fazer você se mexer. Seu coração bate até que seja impossível ignorar e você deve agir. Qual ação? Votar, protestar, escrever uma carta, correr com a sua vida, ir atrás do seu caminho, se defender. Nós batalhamos com várias armas: lâminas, mãos, palavras, teclado, mouse... Ele nos motiva a sair do sofá e fazer uma mudança. Ele é a personificação da evolução. Mude ou morra. Abrace o conflito e procure pela vantagem nisso. Quando pensamos nos filhos de Ares com Afrodite, normalmente nos detemos na Harmonia, não em Fobos e Deimos. Sem o medo, todos estaríamos encrencados. O medo das conseqüências é algo que nos ajuda a evitar fazer algo infeliz ou um capricho. O pânico pode ser um motivador. O pânico ao se pensar em perder um amante por causa de uma discussão estúpida. O pânico à ideia de interromper a sua própria vida por causa de escolhas errôneas de saúde. O pânico quando você se aproxima para dar o primeiro beijo em alguém novo. É deliciosa a sensação do coração batendo, não é? Será que ela/e vai beijar de volta? Eu arruinei tudo ao me precipitar? Ou é tarde demais? Será que eu vou me perder? Abrace essa excitação! Você não se sente mais vivo nesses momentos? Nas palavras de um conhecido reconstrucionista dos EUA, "O mundo pode ser um lugar duro e cruel. Ares nos ajuda a passar por isso. Suas bênçãos são a força, a coragem, a fortaleza, a astúcia, e a paixão em lutar pelas coisas que achamos importantes. Ele nos ajuda a desprender o que não for eficiente, a nos tornarmos firmes a fim de encontrar a adversidade da vida. Ele é um mestre durão, mas quando as coisas começam a desmoronar à sua volta, ele é precisamente a pessoa que você vai querer ao seu lado." (Sannion) Se você escolher andar pelos caminhos de Ares, ele não virá até você com flores e palavras bonitas. Faça uma oferta de suas ações, e a recompensa dele será arremessar pedras no seu caminho, tornar as coisas mais difíceis, cada tarefa um desafio maior. Aceite cada coisa dessa como um presente especial. Não é preciso de muito esforço para sentar no sofá. É fácil escolher não fazer nada que te torne digno de elogios. O caminho de Ares não é só para praticantes de artes marciais. Os guerreiros espirituais podem treinar suas mentes para encontrar formas de usar o conflito com finalidades positivas. Conquistar inimigos, conquistar o medo, conquistar a dúvida. Não estudar artes marciais ou não lutar toda semana não significa que não haja vitórias dignas à sua frente. Uma vez que furar seu supervisor com uma lança não é aceitável nos dias atuais, o objetivo é encontrar um uso para essa energia de ira. Eu não quero dizer para tirarmos a virilidade de Ares. Ele certamente é o deus do conflito, com sangue no escudo, na armadura e na espada. Seu grito de guerra é jubiloso e ele exulta em vitória com um oponente digno. Ele é o deus pessoal da guerra, o companheiro de Atena. Ares e Atena agem juntos. Ela atuaria como um general e ele como o soldado. Ela prevê as estratégias e ele as executa no calor da batalha. Mas um complementa o outro. Não evite o conflito e, mesmo se você não vencer no momento, continue digno de Ares nos seus esforços. Seja digno de vencer. Esteja pronto!


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